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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

ANTES QUE ELES CRESÇAM...


Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados, e crescem sem pedir licença... Crescem com uma estridência alegre e às vezes com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira, crescem de repente. Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal naturalidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você nem percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e amiguinhos e o primeiro uniforme de maternal?A criança está crescendo num ritual de obediência organizada e desobediência civil. E você agora está ali, na porta da discoteca esperando que ela não apenas cresça mas apareça. Ali estão muitos pais ao volante esperando que saiam esfuziantes sobre seus patins e cabelos soltos.Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda e o moletom amarrado na cintura quase caindo. Está quente, achamos que vai estragar o moletom, mas não tem jeito, é o emblema da geração.Pois ali estamos, com os cabelos ficando esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e das ditaduras das horas. E eles cresceram meio amestrados, observando nossos erros.Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. Não mais os pegaremos nas portas das danceterias e festas. Passou o tempo do ballet, do judô, do inglês e da natação. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas própriasvidas.Deveríamos ter ido mais à cama com eles ao anoitecer para ouvirmos sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adevisos, posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Será que não os levamos suficientemente ao bendito Playcenter e ao shopping, será que não lhes demos hambúrgueres e cocas, será que não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas? Talvez sim, mas será que dissemos a eles que os amávamos e o quanto eles eram importantes para nós?Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo nosso afeto. No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas, e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, as disputas pela janela, pedidos de chicletes e sanduíches sem falar nas cantorias no banco de trás.Depois chegou a idade em que viajar com os pais se tornou um esforço, um sofrimento, pois era impossível largar a turma e os primeiros namorados. Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas de repente morriam de saudade daqueles "pestinhas".Os filhos crescem. E os pais também. Essa separação não é perda, é desdobramento. Como as árvores que necessitam de distância para poder expandir seus galhos sem se engalfinhar num emaranhado de ramos e raízes que acabam enfraquecendo-se mutuamente, filhos necessitam se afastar para Ter a real dimensão de si mesmos e de seus pais. E à distância, paradoxalmente, podem acabar se sentindo mais ligados e amados do que nunca. São ciclos de vida. E cada ciclo deve ser vivido intensamente. As mudanças, embora difíceis, quando assumidas sadiamente, são um momento de enriquecimento da vida.
Antônio Afonso de Sant´anna ...

2 comentários:

augusto disse...

Que texto legal!!!!
Parabéns Sônia pela pessoa maravilhosa que você é.
Adriano.The Kids Club.

OKGIRO disse...

Cheguei a este blog por acaso, li este texto atentamente e ADOREI. Como mãe de 2 filhos adultos e 1 adolescente me revi em tanta e tanta coisa.
Parabéns por tão bem expressar aquilo que vai na alma de qualquer um de nós pai ou mãe.